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Partir

Eu tive todas as pétalas da minha inocência arrancadas ainda na infância. Qual tipo de amor eu posso dar, se só me confundiram. Como se doar, o que não se tem?  Eu tenho medo de ser amado, porque apenas me subtraíram os que fizeram. Aprendi a lidar com a rejeição, como uma amiga. Eu me sinto confortável sozinho, tenho receio em ser tocado e olhado nos olhos, mas suporto ser magoado, como se fosse algo previsível - não devia, eu sei - e depois eu fujo. Estou em uma constante fuga, qualquer caminho é caminho pra alguém como eu. Da minha fragilidade, vem minha força, consigo fingir que não estou ali, e que não sinto nada. É uma mágica ser invisível as vezes. Entendo e respeito a vontade de quem não quis ficar. Amadureci vendo as pessoas que amo partindo. Sou terra árida, seca. Se eu tivesse escolha, também partiria.

Eu Senti

Via em você meu reflexo menor, Completar as frases um do outro não foi o suficiente.  Eu não acho que nada deva me comprar, e você tem o seu valor. Você sabe o que significa amar? Você sabe do que estou falando? São milhas de distância, e este é o mesmo tamanho da minha angústia.  O meu templo é o agora, e o seu é vermelho sangue. Eu não consigo mais limpar as vidraças, e quase não consigo ver mais nada daqui de dentro. Doeu, e dói.  Não adianta voltar, não adianta retroceder, não adianta ignorar as opiniões, não adianta passar por cima de tudo e todos, não adianta me comprar presentes imaginários, não adianta planejar férias esquisitas, não adianta pedir desculpas, não adianta aprender com os erros, não adianta pensar em filhos, na nossa casa, em um futuro. Não adianta mais nada, estou tomado pelo ódio do amor-próprio vestido de solidão. Quanto custa? Não importa! Eu paguei e ainda pago em juros altíssimos. Não adianta me amar mais, e nem lutar por isso. É urgente este desa

O Pressuposto

Não havia caixas deste tamanho, ou teria do seu tamanho, ou teria do meu. Não caberia os dois em uma só. Lei da Impenetrabilidade nunca se fez tão certa - dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo-, assim deve ser com as almas. Assim foi com você. Eu estava disposto a tentar. Menino, você tem o sorriso doce, e seu olhar é morcego. Eu queria ser você um dia pra te entender, mas acho que se isso fosse possível, eu iria apenas descobrir que ser você significaria não me querer, não do jeito que eu quero, que sou. E doeria eu não me desejar, talvez isso doa pra você também, de um outro jeito talvez, porque eu pareço perfeito, eu tenho lá algum brilho, sei me fazer notar, mas antes de tudo, sou conformista. Sua compulsão é em lavar lençóis suados. Você ressignificou o amor em algo que eu não acredito, o sexo é dor, a dor é redenção, e qualquer pessoa é a pessoa.  Fez certo, você foi sincero, mas não querer magoar, já magoa.  Seguro pra não chorar e parecer patético, ten

Rochas Magmaticas

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Eu andei em Pedras. Primeiro era areia, dessas que o mar retira por debaixo dos pés, e insistimos em nos equilibrar sobre elas, não caí. Relaxei. Segundo ano era rocha, mais segura, mas no sol se esquentava e no frio se esfriava. Endureci. Depois era mármore, plano, belo, atraente. Mas escorreguei. Por fim, vieram os diamantes, lindos, perpétuos, reluzentes. Mas extremamente dolorosos, não aquentei. Calejei. Eu sou pedra, furtacor, esfarelando, pronto a se quebrar.

Faltou ar

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Nós nuca tivemos nossa música, mas nunca senti algo tocar tão alto em meu coração. Amar não dói, mas o processo de desamar é torturante. Lembro da gente na cama de solteiro, não fazíamos planos, a gente se amava, a vida foi tão mansa, boa e plena conosco. Gentilmente a gente se amou, se descobriu, aceitamos nossos defeitos, fomos companheiros e cúmplices. Respeitamos entre brigas nossos desejos. Eu tive tanto medo de amar, mas você me demonstrou tanta confiança, de me fazer ter essa sensação estúpida, de amar, - que pra você é estar perto, e pra mim é estar dentro -. Suportamos como pudemos nossas diferenças, e te vi aos poucos mudando. Não me conformo o fato de ter lhe transformado tanto, de ter feito chorar tantas vezes, parece que eu te destruí aos poucos, eu te tornei uma pessoa pesada. Eu fui terrível, sou, com minha boca que não aquenta as palavras, mas porque você foi sempre tão sensível? Eu te magoei, me perdoe, não sei fazer curvas. Eu queria tanto você acordado comigo, quer

Crisálida

Em 2014 eu tive um sobressalto. Do nada eu era apenas eu mesmo. Tudo o que me restara a minha vida toda, vinha a tona, o casulo estava amassado no chão, junto com a velha máscara de seda. Do nada eu havia percebido os meus desejos, sentia meu corpo, o chão e o céu. Reconheci a minha distância, e me vi perguntando a mim mesmo aonde eu estava. Não me lembro. Eu senti meu cheiro de infância, com uma mistura de marfim, barro e bellis e me contemplei com as lembranças. Eu pude ver a louça chinesa e a cor dos olhos da minha avó. Vi ele na biblioteca, sorri, e no final do corredor à direita de todos os meu defeitos, vi vida nova. Percebi que janeiro, havia em mim, finalmente chegado.

Amor Primitivo

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Eu nasci para amar, não para ser refém do amor alheio. Eu nunca dependi deste tipo de aprovação. Sempre sonhei com o amor verdadeiro, traçar sonhos juntos - a casa imensa de piso de mármore com crianças e meu amor na mesa de café. Em minha casa não há grades nas janelas, as chaves estão sempre nas fechaduras, todo mundo é livre pra entrar e sair, quando quiser. E assim como na minha casa, meu coração também é livre, amar não significar parar de ser você, há sim de renegar a certas coisas, mas tentar prender a quem se ama não é só cruel, é a maior violência à liberdade. Assassinar a auto-estima é um crime de pudor à vida, é cegar uma criança órfã.  Talvez eu prefira a casa de chão de mármore vazia e eu ainda não tenha percebido isso; com as janelas bem abertas, de onde eu possa observar em segurança as pessoas lá fora. Talvez amar o outro seja difícil demais pra mim e eu não consiga compreender ainda. Abnegar é árduo. Amar é ser o outro, sem deixar de ser você. Você deve ser comp